quinta-feira, 25 de setembro de 2008

É menino ou menina doutor? (parte 2)

Iow

(Se você não leu a primeira parte, eis o link)

Tomara que essa história não tenha muitos capítulos...

Então, eu parei a história na quarta a noite, certo? Bem, o funk da noite mal dormida mudou de ritmo naquela noite. Ao invés de funk virou techno touch-touch:

Cof cof cof cof cof cof cof co-co-cof...

Tossi tanto que não entendi como não virei ao avesso...

Na quinta-feira...

Bom, quinta-feira foi um dia morno. Bem, 38°C é quente, então foi um dia quente. Figuei em casa o dia todo esperando o corpo tomar alguma providência contra o alien que estava dentro de mim. Acho que os anti-corpos estavam de férias (ou foram contratados sem concurso).

E da-lhe tosse e febre. Para o outro dia eu estava decidido: iria ver um pneumologista (sim, aquele que cuida dos pneus... O radiologista, que cuida do radiador, não encontrou nada mesmo...).

E da-lhe o techno dance bate-estaca da noite mal dormida:

Cof cof cof cof cof cof cof co-co-cof...

Na sexta-feira...

Acordei como se um caminhão carregado de caminhões carregados de ferro estivesse passado por cima de mim. Eu deixei o estado bostão e fui para o estado bostão-pisado, que é muito mais incômodo.

Marcamos uma consulta no pneumologista para o final da tarde. Tomei um banhão e fomos. Já no caminho a nóia espaço-temporal começou a tomar conta da minha mente. Naquele momento lembrei de uma música "Vamo se embora, noiar... Tossir cair e levantar, tossir cair e levantar...".

Chegando na clínica de pneumologia, uma escada gigante precisava ser escalada. Imaginei um cara com câncer de pulmão, bronquite, asma e gripe (tudo junto) subindo ali.

Ao chegar no topo da escada, a tradicional espera para ser atendido. Fiquei foleando aquelas revistas que dizem que comer casca de banana com rúcula frita é bom para o não atrofiamento dos músculos da perna esquerda.

Quando finalmente fui atendido, da-lhe descer as escadas (sim, para uma clínica de pneumologia faz todo o sentido). O médico esperava em sua sala. Rolou aquele papo cabeça de "o que você está sentido?", "cagou direito?", "merece presente do papai noel no fim do ano?" e coisas do gênero, até que ele pegou o meu primeiro raio-x (aquele que fiz na segunda-feira) e colocou no negatoscópio (esse treco é tão difícil de escrever quanto de falar).

Não foi preciso nem 3 segundos para o médico dizer o diagnóstico. "Ah, isso é pneumonia!!!". Blah!!! Quer dizer que os 3 patetas que me atenderam antes não conseguiram ver isso?

O raio-x estava bem ruimzinho, então ele pediu um novo raio-x, na clínica ao atravessar a rua. Melhor assim, desse jeito estarei mais perto do objetivo de ter asas. Fomos lá. Ele junto. Chegou botando ordem "Quero um raio-x de urgência para esse paciente aqui, e dane-se a fila". Massa.

Fui lá, fiz o raio-x, e na volta uma surpresa: o sistema de gestão de imagens daquela clínica era da Pixeon (empresa que eu trabalho)!!! Ou seja, eu fui atendido pelo software que eu mesmo ajudei a construir!!! Que orgulho!!! Fiquei até melhor naquela hora. Quando chegou o raio-x manipulado pelo PixViewer e impresso pelo PixPrint eu pensei "ô coisinha tão bunitinha do pai...". =)

E com a incrível e incomparável qualidade alcançada na manipulação e impressão do raio-x, o médico pode então dizer "é, fodeu...". Os meus pulmões estavam brancos, completamente tomados pela pneumonia. Então ele deu a sentença de morte: "Bom, eu enterrava..." Que??? Enterrava? Já tô morto?

Eu tava tão baratinado pelo resultado que já estava até entendendo tudo errado. "Bom, eu internava..." foi o que ele disse. Pegou o celular, ligou para uma meia dúzia de fulanos, e conseguiu uma vaga num hospital. "E lá vamos nós"... No taxi eu estava um completo zumbi: não vi o caminho, não vi o motorista, não vi o taxi, não vi nem eu. É isso o que geralmente acontece quando se fecha os olhos.

Chegando no hospital, começa a verdadeira saga. No caminho pensei "tomara que seja um daqueles hospitais maneiros que eles utilizam video-game para a melhor recuperação dos pacientes". E logo na entrada dizia um aviso "Esse hospital é 100% mantido com recursos do governo estadual, e qualquer cobrança é ilegal". Video-game? Ha... Era perigoso não ter nem soro...

Fui atendido pela médica de plantão (que não seria a minha médica). Aquelas tradicionais perguntas foram feitas "Desde quando tá tossindo? Qual foi o pico da febre? Como você aguentou passar as 100 salas do Super Paper Mario?" etc.. Depois da entrevista, voltei para a recepção.

Depois de literalmente 2 horas de espera para a internação de urgência, chega um cara com uma cadeira de rodas para me levar. O cara devia ser estivador ou algo assim: me senti uma carga sendo transportada. Dava vontade de levantar uma mão pra cima e gritar "seguuuuuuuuura peão!!!".

Inicialmente eu deveria fazer outro raio-x (yes! mais radiação!), pois o super raio-x extreme power plus impresso com o melhor software mundial na área ficou na clínica para ser laudado. E lá foi o estivador me levar para a sala de raio-x do hospital.

E espera... espera... espera... Fiquei lá tomando um refrescante vento sul nas costas. A minha mais grossa blusa não estava dando conta. Depois de literalmente meia hora, o estivador volta e diz que o técnico não estava lá (sério?) e que iria me levar direto pro quarto. Naturalmente, minha mãe e minha namorada soltaram o verbo. O estivador, mais do que depressa (como se já tivesse um discurso decorado na frente do espelho), se defendeu: "Não é culpa minha, eu não me responsabilizo pela falha dos outros, eu assumo o que eu faço mas não a falha dos outros, se quiser reclamar reclama com o cara e não comigo, pois não é culpa minha, eu não me responsabilizo pela (loop infinito)". E ele foi reclamando até chegarmos no quarto.

Chegando lá, surpresa (sim, é um hospital kinder ovo): a minha cama era a segunda de três (ou seja, ficava no meio), a minha direita um cara algemado na cama e a minha esquerda um senhor que não ouvia nada. A minha cama não tinha o tradicional degrau pra subir, eu tive que dar um duplo twist carpado para chegar no colchão. Uma TV pegando mal estava sobre a minha mesa de comida. Bom, pelo menos tinha uma TV, pois os outros quartos não tinham.

Assim que tirei os tênis para então deitar, chegou um outro enfermeiro com um sorrisão na cara "E aí, vamos tirar um raio-x?". Tá me zoando né? "E lá vamos nós...". Pelo menos esse não era estivador.

Chegando novamente na frente da sala de raio-x, uma nova espera. Mas não demorou muito um cara, de dentro, abriu. Se não fosse um hospital eu diria que ele estava ali tirando férias: camisetona estilo largadão, cara de sono, tênis sujo... Entrei.

E adivinha... surpresa!!! Eu nunca tinha visto um raio-x de madeira antes. A sala era grande, com 2 raio-x, mas um deles estava com plásticos por cima e um puta cartaz "Aparelho com defeito - não utilizar" por cima. Tinha mais algumas coisas bizarras encostadas também. Parecia mais um depósito do que uma sala de raio-x.

E com a maior vontade do mundo, o cara fez os procedimentos para o exame. "Encosta... Inspira... Segura... Pode respirar...". Dada a idade do aparelho, acredito que emitia mais radiação do que o normal. Oba!!! Dependendo eu posso até gerar 2 pares de asas.

Saindo do exame, de volta para o quarto. O enfermeiro pede então que eu leve a chapa e uns papéis, pois ele levava a cadeira com uma mão e a outra mão segurava um radinho a pilha que transmitia o jogo de Avaí e sei-lá-quem. No meio do caminho ele parou, me deixou no corredor tomando um refrescante vento sul para pegar uns papéis (mais coisa pra eu segurar...) e depois voltou. Pelo menos foi rápido.

De volta ao quarto, hora de ser furado. Pegaram meu braço, tacaram uma agulha e da-lhe levar soro. Cheguei a tomar dois soros ao mesmo tempo. Devia ser um para cada pulmão, sei lá. Como não tinha lugar para ficar lá, minha mãe não pôde ficar. Imagino como seria se ainda por cima não fosse pela Unimed...

Depois de tomar tanto soro, bateu aquela vontade de ir ao banheiro. E na porta do mesmo, um cartaz: "O hospital não se responsabiliza pela perda ou furto dos bens dos pacientes". É, para ter um aviso desses, deve ser comum ser assaltado por ali. E eu lá, do lado de um cara algemado. Tava bem na foto.

Depois do xixizão, chega um enfermeiro "Preciso tirar sangue para fazer exame, e preciso também fazer um exame de urina..." Curses... Justo quando eu havia acabado de ir ao banheiro. Foi como tirar água de pedra. Mais uma vez o treinamento extensivo e exaustivo nas montanhas apucaranenses me ajudou.

Como eu não tinha mesinha, o enfermeiro manipulou o meu precioso sangue ali em cima do criado mesmo, com as minhas revistas por baixo. Sorte que não pingou.

Depois chegou outro enfermeiro e ligou um treco amarelo na minha veia. Diz a lenda que era antibiótico, mas vai que o hospital é adepto de tratamentos alternativos como a urinoterapia? Nunca se sabe.

E assim acabou a noite. Eu na cama estranha, vendo TV completamente xiada e distorcida, com um cara algemado do lado e o braço imobilizado pela veia furada. Não teve música da noite mal dormida, pois eu não dormi.

No sábado...

Quando eu finalmente consegui tirar uma soneca, fui acordado por um trem passando no corredor. Era troca de turno. Era um tal de carrinho passando pra cá, cadeira de rodas passando pra lá, gente rindo e jogando papo fora (aliás, um tal de Juca comeu a Rosângela, e a Maria tava com um cabelo horrível).

A velinha que acompanhava o velinho surdo perguntou "E então? Dormiu bem né? Nem te ouvi tussir. A sua mãe pediu pra eu ficar de olho em você". Tava bem arranjado. Eu não dormi e tossi até quase quebrar a cama. Com um sorriso amarelo respondi "É, dormi bem...".

Oito horas, hora do café da manhã. Chega a mulher com a gororoba e pergunta "Nossa, não te deram travesseiro?". Eu não durmo com travesseiro (sim, eu sou esquisito). E comi o pão com geléia de sei-lá-o-que (sério, não consegui descobrir do que era aquela geléia) todo torto em cima do criado.

As horas passam, alguns efermeiros vem para trocar o soro, "Nossa, cadê seu travesseiro?", e chega as 11 horas. Hora do almoço. Putz!!! Almoço as 11? Argh...

E foi assim que vi a coisa cuja palavra "gororoba" define melhor. Um treco amarelo com pontos verdes, com fiapos saindo pro lado. Comi só o arroz e o caldo de feijão (parecia o feijão chuá-chuá-plim-plim do RU) e fiquei na minha. Eu hein. Vai que aquele treco cria vida e pula no meu pescoço?

Duas horas. Hora de visita. Um alívio para o tormento que é estar internado. As visitas do velinho surdo olhavam pra mim e perguntavam do meu travesseiro. Depois perguntavam o que eu tinha. Blah.

Cinco horas. Hora da janta. PQP!!! Como é que é possível algúem jantar a essa hora? Pelo menos a gororoba não se fazia mais presente. Comi bem.

De tempos em tempos o vigia do cara algemado trocava de lugar com outro (descobri depois que o nome do cara era Lindomar... Seus pais não tiveram dó). Numa dessa trocas puxei papo com um dos vigias, que até acabou me emprestando umas revistas pra ler. Foi aí que descobri que o garotão lá estava preso por duplo homicídio e estupro presumido. Massa. E eu com uma dupla pneumonia e uma tosse presumida.

Chega a noite. Hora de Zorra Total. Argh. É inacreditável como é possível assistir um programa supostamente humorístico, do começo ao fim, sem sentir a menor vontade de rir. É muito ruim. Até a minha tosse era mais engraçada.

No domingo...

Novamente o trem da madrugada me acorda. O dia é normal: lendo as mesmas revistas, tomando os mesmos bagulhos coloridos na veia, vendo os programas terríveis da programação de domingo, respondendo que não uso travesseiro etc.. Pelo menos, segundo uma das enfermeiras que perguntou do travesseiro, a minha temperatura corporal voltara à temperatura normal de um ser humano normal. A temperatura de um nerd será que é normal? Aliás, "voltara"... Quando eu pensei que iria um dia usar esse tempo verbal na minha vida? Uau...

Pela primeira vez também consegui dormir mal. Antes eu não estava dormindo. Já é um avanço.

Na segunda-feira...

Piuííííííí!!! Lá vai o trem. O dia começa com Ana Maria Braga e o Mais Você. Emocionante. O pior era ver aquelas carnes e pratos sofisticados e lembrar da gororoba assassina.

Depois do cafézão, chega a turma de estagiárias de enfermagem para medir pressão, medir temperatura, perguntar se dormiu bem, perguntar por que não uso travesseiro etc.. Antes que você pense, não, as gurias que me atenderam eram todas dracônicas. Para onde vão as gurias que vemos no campus? Sad.

Bonito era a chefe das estagiárias tentando me convencer de tomar banho de manhã. Pow, de manhã tá frio!!! Todos os dias eu vinha tomando banho durante o período de visitas, que é para ter ajuda profissional da namorada. Mas tomar banho de manhã? Blah. Tive que perguntar "Tá, me explica o porquê científico, ou seja, não cultural, de se tomar banho agora, dado que durante a tarde a temperatura é mais agradável e eu ainda posso contar com a visita?", com esses termos. Bom, ela baixou a crina e não respondeu. Pelo menos parou de encher a minha paciência.

Almoço das 11. O temor da gororoba assassina não se confirma. Ufa. Aliás até tinha um franguinho bom. O melhor era a gelatina.

O resto do dia foi aquela normalidade. Sessão da tarde, troca de soro, "É que eu não uso travesseiro", e saiu Wario Land Shake It!.

Já me sentia melhor, a ponto de começar a ter esperanças de sair logo.

Na terça-feira...

O trem passa. Parece que o Juca não comeu mais a Rosângela. Acho que a Maria deve ter tingido o cabelo, pois ninguém falou mais nada.

Chega o time de estagiárias. Hora de trocar o meu barulho-que-fura-a-veia-pra-passar-soro, que era o mesmo desde quando eu internei. Primeiro, aquela depilação básica, pois havia trocentos esparadrapos segurando o aparato. Depois começou a caça ao tesouro. As duas novatas tentavam furar a veia, e erravam "Putz, não deu, vamo de novo...". E eu lá. "Isso, traciona, agora vai!!!" E não ía. Meu braço já parecia uma peneira. "Pera, já sei... Lembra, tem que puxar aqui, daí fica mais fácil. Vamo lá!!!". E nada. Eu já estava verde.

Daí chegou a chefe, a mesma que queria que eu tomasse banho de manhã (aliás, tentou me convencer de novo, mas com menos afinco), pegou a agulha das mãos das novatas, pegou meu outro braço, e com autoridade mostrou "Ó gente, é assim!". E pá. Doeu, mas pelo menos foi uma vez só. E o meu braço todo picado dói até hoje.

E agora era esperar a médica passar pra dizer se eu iria ter alta ou não. Antes, mais um exame de raio-x. Yeeeess!!! Meu plano de ter asas cada vez se torna mais realidade. Dessa vez fui andando, e quem atendeu foi uma mulher mais bem disposa.

Chega o horário de visita, e uma surpresa boa. O povo do trabalho foi me visitar. Até me levaram os tradicionais cookies vespertinos. Dei uma animada. Sorte que pelo menos eles não levaram bugs pra eu resolver. =P

Depois do horário, a angústia da espera pela médica. 4 horas e nada. 5 horas e nada (só a janta). 6 horas e nada. Chega a noite. E nada. Pow, será que ela me esqueceu? Pow, melhor nem citar isso que periga passar "Esqueceram de mim" pela primeira vez na televisão na sessão da tarde.

Dá 10 horas da noite e ela chega. Finalmente. "Ah, era pra você ter alta hoje, mas como já está tarde e não pude analisar o raio-x, eu te dou alta amanhã". Valeu.

E fui dormir com a ansiedade de querer sair logo. Ou seja, nem dormi.

Na quarta-feira...

Passa o trem. Chega o time de enfermeiras. Respondi positivamente a todas as perguntas. Queria sair logo. Segurava a agora rara tosse pra tossir embaixo das cobertas. Chega, não aguentava mais.

Chega o almoço das 11 horas. Gororoba nunca mais, pelo menos. Chega o horário político. Eu já tinha até decorado a ordem dos vereadores.

A médica só resolve aparecer perto das 4 da tarde. Pelo menos não foi a noite, como no dia anterior. Resultado: altaaaaaaaaaaaaa!!! Aleluia.

Eu nem me troquei direito. Saí correndo daquele lugar. O velinho surdo tinha saído um dia antes e dado lugar para um cara com mais de 50 anos de cigarro. O cara não conseguia respirar. Angustiante. Dava dó, mas também não tinha como não falar "bem-feito, quem mandou?". O preso continuou lá. Ele tinha algum tipo de infiltração no pulmão, adiquirida na prisão.

Chegando em casa tomei um banhão e fiz a barba. Eu tava quase um parente do Lula.

A tosse ainda persiste e vou ter que ficar de respouso por mais uns dias. Pelo menos, agora, com direito a comidinha da mamãe. E a Wii, claro.

Té++

Nenhum comentário: